Jannik Sinner vem dominando o circuito profissional de tênis desde o segundo semestre do ano passado. Com uma boa vantagem na liderança do ranking, o italiano de 23 anos chegou a acumular uma série de 26 vitórias consecutivas entre a reta final de 2024 e o início deste ano. O número 1 do mundo, contudo, vem encontrando um forte obstáculo em seu caminho: o espanhol Carlos Alcaraz.
No domingo, o número dois do mundo apareceu novamente na trajetória de Sinner e buscou uma virada épica na final de Roland Garros. Foi a segunda derrota seguida do italiano para o espanhol em uma final. Há três semanas, Alcaraz venceu o rival justamente no Masters 1000 de Roma, onde Sinner contava com o apoio quase maciço da torcida.
Os dois revezes chamam a atenção num cenário de domínio do líder do ranking. Um número escancara a dificuldade de Sinner contra Alcaraz. Em seus últimos 51 jogos no circuito, desde agosto do ano passado, o italiano sofreu apenas três derrotas. Todas para o espanhol. O primeiro revés desta série aconteceu também em uma final, no ATP 500 de Pequim, na China, em setembro de 2024.
São exceções se considerarmos o circuito no geral, mas que estão se tornando “regra” no confronto direto entre os dois tenistas. Ao virar sobre Sinner na final de Roland Garros, no domingo, Alcaraz somou sua oitava vitória no retrospecto entre os dois, sendo a quinta consecutiva. O número 1 do mundo soma quatro triunfos, o último deles obtido já no distante ano de 2023.
Como explicar essa dificuldade de Sinner em partidas contra Alcaraz? Qual é o segredo do espanhol diante do atual número 1 do mundo?
A explicação está na própria final disputada no domingo, em Paris. A partida foi decidida em cinco sets, com domínio de Sinner nas duas primeiras parciais. Forte equilíbrio no terceiro set e superioridade de Alcaraz nas duas últimas parciais da decisão, o suficiente para o espanhol buscar o bicampeonato.
O tenista italiano foi superior em quadra enquanto Alcaraz insistiu na “estratégia de trocação”, uma disputa intensa de trocas de bolas no fundo de quadra, maior especialidade de Sinner. O italiano é conhecido pela incrível estabilidade nestes golpes, com baixíssimo índice de erros. Foi assim que atropelou seguidos rivais no saibro de Roland Garros até chegar à final.
O panorama do jogo só mudou, evitando uma vitória de Sinner por 3 a 0, quando Alcaraz voltou à tática que sempre usou contra o rival: explorar todos os seus recursos técnicos para fazer variações em quadra. Assim, passou a usar mais de slices, deixadinhas (recurso que fez Novak Djokovic causar certo estrago no jogo do italiano na semifinal) e até saque e voleio, tática mais comum em quadras rápidas.
Fazendo Sinner balançar mais de um lado para o outro, de forma inesperada, Alcaraz mostrou excelência em bolas anguladas e golpes certeiros na rede para se impor em quadra. O italiano passou a mostrar desconforto cada vez maior na final, com dificuldades de igualar a perfeita movimentação do espanhol em quadra. O vice-líder do ranking exibiu um arsenal de recursos que Sinner não costuma encontrar em outras partidas, geralmente marcadas pelas pancadarias do fundo de quadra.
O crescimento de Alcaraz na final de Roland Garros, claro, teve efeitos psicológicos sobre o italiano, que desperdiçou três match points no quarto set. Possivelmente, a lembrança de outro episódio parecido afetou Sinner no momento em que poderia ter finalizado a partida. Nas quartas de final do US Open de 2022, o espanhol também salvou um match point antes de vencer o adversário. Curiosamente, em outra batalha de cinco sets.
Com este histórico de quatro match points perdidos contra Alcaraz, não seria exagero projetar novos momentos de instabilidade emocional por parte de Sinner em futuros confrontos entre os dois, possivelmente ainda nesta temporada. Caberá ao italiano encontrar os recursos necessários para voltar a vencer seu maior obstáculo no circuito.